Nosso amigo, o cônsul-geral Von Langsdorff, comprara uma grande propriedade pouco antes de nossa chegada ao Rio de Janeiro, que se localizava ao norte da baía, no caminho para Minas Gerais, e começara ali uma plantação de mandioca, construindo também para si uma casa juntamente com outras dependências necessárias à fazenda. De bom grado aceitamos o convite para visitar em sua companhia esta nova criação, sobre cuja vasta riqueza em aspectos históricos-naturais ele nos fizera um interessante relato. Devido à grande freqüência de passageiros que se locomovem entre a capital e Minas gerais, partem diariamente vários barcos para o Porto Estrela, entre 11 e 12 horas, logo que os ventos se fazem favoráveis, chegando lá à tardinha (...) Numa tarde, viajamos então com um desses largos barcos de uma vela (...)

___O dia clareou e nos vimos próximos a uma região bastante baixa, de solo pantanoso, coberta de mangues vermelhos, avicênias, conocarpas e outras árvores típicas das margens marítimas, no meio das quais o Inhomirim, um rio insignificante, serpenteava em direção ao mar. Deixamos então a baía, e os negros com longas varas, empurraram a embarcação rio acima.
Logo nos vimos rodeados de arbustos, e nos alegramos com seus mais variados tipos: cada qual mais bonito que o outro, com as moitas contornadas pela água e entrelaçadas por numerosas flores, gardênias, bignônias, serjânias e echites (...)

___Seguimos então o curso do Inhomirim cerca de uma milha em direção ao interior, até chegarmos ao povoado de Porto de Estrela, cujas casas mal construídas e baixas, na verdade, barracos, formavam uma rua irregular na confluência com o pequeno Saracuruna com o Inhomirim. Porto de Estrela é um porto comum ao Rio de Janeiro e à província de Minas Gerais

Fonte: Relato de Spix e Martius . In: BECHER, H. O Barão Georg Heinrich Von Langsdorff: pesquisas de um cientista alemão no século XIX , 1990.