Estrada de Ferro

Na segunda metade do século XIX, uma das mudanças ocorridas, com base no saber científico, na região da Baixada Fluminense foi a construção das estradas de ferro. Os caminhos de ferro começavam pelo Campo da Aclamação, atual Praça da República.

Embora a Estrada de Ferro D. Pedro II seja a mais conhecida, a realização pioneira em ferrovias foi a Estrada de Ferro de Petrópolis ou Mauá, inaugurando em 30 de Abril de 1854 a primeira experiência com esse meio de transporte no Brasil.

Essas construções ocasionaram algumas modificações na região. Dentre elas, o deslocamento do fluxo de mercadorias do Porto Estrela para o Porto da guia de Pacobaíba, transformando em estação ferroviária, e o gradativo abandono do transporte fluvial.

Em meados da segunda metade do século XIX, as terras da baixada serão cortadas por outro empreendimento ferroviário: a Estrada de Ferro D. Pedro II, que partia do Campo da Aclamação até a Estação de Queimados (1858) e, finalmente, até a estação de Belém (Japeri) em 1859. Esta ferrovia tinha por objetivo o escoamento da produção cafeeira, embora as fazendas de café da Baixada Fluminense não tivessem constituído um polo importante de produção deste produto.

A construção da estrada influenciou a organização econômica e social da região; serviu aos interesses de poucos (em particular os donos dos cafezais de Tinguá), pois a maioria dos fazendeiros locais era representada por produtores de açúcar ou produtores de gêneros para revenda na capital. Mas a economia açucareira entraria em declínio, os antigos engenhos de açúcar movidos à tração animal ou força hidráulica, foram sendo substituídos pelos engenhos a vapor; tal produção perde força também devido ao esgotamento de solos ocupados, que logo foram substituídos pela região de Campos dos Goitacazes.

Além da organização econômica e social, alguns outros aspectos são importantes para o entendimento da relação entre as estradas de ferro e a região. Um deles diz respeito aos procedimentos técnicos, a falta de estudos iniciais sobre a região na qual se assentavam os primeiros trilhos significativos para o processo de modernização do país pode ser considerada típica deste primeiro empreendimento. A exemplo disto, os pântanos da região e seus rios que não tardaram a deixar suas marcas nos problemas que envolviam o funcionamento da estrada.

Ocorreram alguns acidentes na Estrada de Ferro D. Pedro II, trazendo prejuízos materiais e também ambientais. O primeiro destes diz respeito à falta de preparo técnico dos engenheiros que, na projeção da estrada, já teve como consequência o fato da própria se tornar uma barreira dificultando o escoamento das águas da região. O outro problema se refere ao desmatamento das florestas da região para obtenção de lenha, tanto para os "novos engenhos a vapor" quanto para as ferrovias, levando tal ambiente à quase desaparecer devido aos trilhos e aos engenhos.

No relato Charles Ribeyrolles, pode-se perceber aspectos relevantes. Um deles é a percepção, por parte dos habitantes da região, da decadência da Baixada Fluminense devido às estradas de ferro. Municípios como Estrela e Iguaçu iniciaram um processo de estagnação econômica que os levou ao desaparecimento. No entanto, outras vilas no rastro dos trilhos do trem se formaram, como Maxambomba, atual Nova Iguaçu.

Em relação ao processo de modernização do país, a Baixada Fluminense serviu, por assim dizer, de assento e combustível para seus trilhos. O progresso passou deixando em seu rastro a imposição de uma nova organização político-social que deixou marcas na paisagem da região.